Lesões da Cartilagem Articular – O que é, causas, sintomas e como tratar?

Introdução

Primeiramente, as lesões da cartilagem articular ocorrem em uma camada semi-dura e lisa de tecido conjuntivo branco, que recobre as extremidades dos ossos onde eles se articulam dentro de uma articulação. A cartilagem é um tecido vivo, mantido e reparado por células chamadas condrócitos, que estão contidas em suas camadas. Como a cartilagem não possui fornecimento sanguíneo próprio, ela depende da difusão de nutrientes provenientes dos ossos.

Por esse motivo, ela tem uma coloração branca, e não avermelhada. Sem a cartilagem articular, as superfícies ósseas se desgastariam rapidamente devido ao atrito entre elas. A cartilagem articular é ainda lubrificada pelo fluido viscoso dentro das articulações, proporcionando assim o menor coeficiente de atrito entre qualquer material ou tecido humano.

Mecanismos de lesão

Diversos mecanismos podem causar lesões na cartilagem, incluindo trauma direto, lesões repetitivas, uso ou posicionamento incorreto das articulações, fraturas, entorses e doenças degenerativas, como a osteoartrose, além de doenças inflamatórias, como a artrite reumatoide. Todos esses fatores podem ser agravados pela obesidade, que aumenta a carga sobre as superfícies articulares lesionadas.

A cartilagem articular possui um processo de reparação natural e constante, que renova e repara lentamente o dano sofrido. No entanto, como esse processo reparativo é extremamente diferenciado e demorado, ele pode ser superado pelo processo lesivo. Por conseguinte pode levar ao desgaste das articulações, como ocorre em lesões significativas da cartilagem, como a artrose.

 

A cartilagem articular é composta por um tecido translúcido conhecido como cartilagem hialina, que é formado por colágeno tipo II e sulfato de condroitina. Este tecido é lentamente renovado pelas células localizadas nas camadas mais profundas.

Quando a lesão na cartilagem se estende até o osso, o fornecimento de sangue por meio desse osso pode, em alguns casos, iniciar um processo de reparo. Esse processo ocorre através da formação de um tecido cicatricial especializado, conhecido como fibrocartilagem. Este tecido amorfo e mais rígido ajuda a preencher o defeito na cartilagem. Contudo, a fibrocartilagem não substitui perfeitamente a cartilagem hialina, pois não é tão resistente ao desgaste e não possui as propriedades de baixo atrito da cartilagem original.

Nos estágios avançados do desgaste, o osso abaixo da cartilagem pode ficar exposto, o que aumenta a fricção e acelera a degeneração articular, levando à osteoartrose.

 

Corpos Livres Intra-articulares

Durante o processo de degeneração articular, pequenos fragmentos de cartilagem ou de osso (ou de ambos) podem se soltar e ficar “boiando” dentro do líquido sinovial, que é o líquido lubrificante produzido nas articulações. Esse líquido não só lubrifica, mas também nutre a cartilagem e a cápsula articular. Inicialmente, esses fragmentos aparecem como pequenos grânulos soltos e aumentam de tamanho com o tempo.

Nesse contexto, a sensação clássica é o travamento da articulação ou estalidos, que ocorrem quando os corpos livres se pressionam ou ficam presos entre as superfícies articulares. Essa condição pode, por sua vez, gerar dores, inchaço e dificuldade para estender completamente os joelhos ou qualquer outra articulação afetada. Além disso, esses sintomas são comuns em lesões da cartilagem e incluem dor esporádica, inchaço eventual, travamento e sensação de instabilidade articular.

 

Evolução das Lesões da Cartilagem Articular

Enfim, a cartilagem possui uma certa capacidade regenerativa, o que permite que lesões mais leves e recentes, especialmente em jovens, cicatrizem com o auxílio de um tratamento especializado.

Entretanto, lesões mais severas, profundas e com maior tempo de evolução, como as lesões crônicas e antigas em pacientes mais velhos, geralmente agravam o quadro. Em situações avançadas, a osteoartrose se instala, piorando ainda mais a condição da articulação.

Artroscopia do tornozelo, mostrando cartilagem lesada e a superfície óssea abaixo.

 

Tratamento das Lesões da Cartilagem Articular

Os profissionais de saúde têm várias opções de tratamento para a lesão da cartilagem articular, e a escolha depende do grau de dano ao tecido, da idade do paciente, do estilo de vida e das práticas esportivas. Geralmente, os profissionais tentam primeiro o tratamento não-operatório, com acompanhamento constante do ortopedista.

Se necessário, eles removem os corpos livres por meio da artroscopia (cirurgia artroscópica), que oferece ótimos resultados na redução dos sintomas mecânicos, como travamento, dor e estalidos.

Artroscopia do joelho para retirada de corpo livre intra-articular, visualizado na foto à direita.

 

Durante a artroscopia, os profissionais podem remover pequenos flocos ou flaps da cartilagem articular. Além disso, eles desbridam e apararam a periferia da lesão e seu leito, tornando as superfícies mais lisas e regulares. Esse processo de polimento e abrasão das superfícies chama-se Condroplastia. Quando a lesão atinge o osso, os profissionais realizam a Osteocondroplastia.

Flap da cartilagem a ser ressecado à esquerda. Condroplastia e abrasão das superfícies condrais à direita.

 

Eventualmente, podem surgir áreas elevadas de cartilagem, resultado de um processo auto-reparativo após uma lesão, que provoca a produção exagerada de fibrocartilagem e tecido cicatricial. Essas áreas podem ser alisadas e niveladas por meio de um processo chamado Ablação por Radiofrequência, que é semelhante à Osteocondroplastia realizada durante a artroscopia.

Além disso, nos locais onde a lesão atingiu o osso, os profissionais podem utilizar a técnica de Microfraturas para repará-los. Esse procedimento envolve a realização de pequenos furos no osso exposto, estimulando a produção de fibrocartilagem ou tecido cicatricial. O processo é iniciado pela liberação de sangue, que contém fatores de crescimento e de renovação tecidual.

A cartilagem degenerada, com fibrilações em sua superfície à esquerda, apresenta sinais de desgaste. Para tratar a condição, realizam-se microperfurações no osso subcondral após a Osteocondroplastia, o que provoca a saída de sangue. Esse processo visa estimular a regeneração da cartilagem e promover a reparação da área afetada.

 

Em lesões mais extensas e recorrentes, os médicos podem, dessa maneira, optar por retirar um enxerto osteocondral (osso + cartilagem) de áreas menos nobres de uma articulação e transplantá-lo para a região lesionada. Normalmente, retira-se osso coberto por cartilagem de uma área do joelho que não suporta peso e o coloca no defeito articular em tratamento.

Ademais, esse procedimento de recapeamento recebe o nome de Transferência Osteocondral Autóloga. Quando os profissionais retiram múltiplos pedaços de osso e cartilagem (múltiplos enxertos), o processo é denominado Mosaicoplastia (veja a figura abaixo).

 

Nesse ínterim, lesões mais extensas que requerem o uso de enxerto de cartilagem e osso podem ser tratadas com a implantação de condrócitos (células articulares). Nesse processo, os profissionais retiram células de cartilagem saudável (condrócitos) da articulação e as cultivam em laboratório. Após a expansão e replicação dessas células, um processo que leva cerca de 3 a 4 semanas, realizam a Implantação Autóloga de Condrócitos.

 

Em suma, os pesquisadores desenvolvem novas técnicas de bioengenharia tecidual com resultados promissores, como o uso de células-tronco. Além disso, utilizam materiais semi-sintéticos que mimetizam a cartilagem articular, como discos e pastas de cartilagem ou colágeno, em conjunto com o tecido humano.